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terça-feira, 23 de junho de 2009

Inovar é reestruturar





Na década de 80, havia no Brasil cerca de 2 mil Organizações Não-Governamentais (ONG). Hoje, esse número passou da marca de 300 mil. Como podemos diferenciá-las? A Associação Saúde Criança Renascer, localizada dentro do Parque Lage, é um exemplo de inovação nesse meio por atuar em mais de uma área, fator que acarretou o prêmio internacional de projeto mais inovador em saúde promovido pela Grameen Health.

Fundada em 1991 pela Dra.Vera Cordeiro - Clínica Geral, com especialização em Psicossomática - é uma organização social, sem fins lucrativos e sem filiação política ou religiosa. Além da sede, conta com uma sala de recreação no Hospital da Lagoa e um centro de formação profissional no bairro Jardim Botânico.

A ideia de formação da ONG derivou da repetição de casos, no próprio hospital, em que crianças internadas recebiam alta, porém não tinham condições de continuar o tratamento em casa. Dessa forma, a reinternação era algo frequente, muitas vezes levando ao falecimento do paciente. O objetivo principal da Renascer é criar um ambiente propício à recuperação da criança, reestruturando sua família. “A criança é apenas a ‘ponta do iceberg’. Ela é o início de um tratamento muito mais amplo”, afirmou Carina Borgatti, coordenadora de dados do programa. Segundo a entrevistada, a metodologia da organização, que já influenciou cerca de 20 outras ONG’s, consiste na criação de documentos com ações que descrevem as necessidades da família.

O processo engloba cinco metas: cidadania, moradia, escolaridade, renda e saúde e é considerado completo quando no mínimo três delas são alcançadas. A atuação no campo de cidadania ocorre quando um ou mais membros não possuem documentação em dia ou precisa de auxílio jurídico. Nesses casos os beneficiados são encaminhados a locais onde possam resolver suas pendências, como por exemplo, na hora de receber a indenização de um salário mínimo pago pelo INSS.

A ajuda na área de renda se dá com o oferecimento de dois cursos profissionalizantes por família. Já a atuação no quesito moradia consiste em um auxílio que vai desde distribuição mensal de cestas básicas até a compra de material de construção. O item escolaridade depende somente da frequência da criança na escola. Por último, a assistência de saúde cobre várias carências, como distribuição de medicamentos e encaminhamento a locais cujos serviços a Renascer não oferece.

A seleção começa após o atendimento da criança com algum tipo de doença crônica no Hospital da Lagoa. Lá, existe uma equipe de médicos conveniada com a organização, que seleciona quem deve ser encaminhado ao programa. A partir disso, a família é recebida e passa por um processo de avaliação. Alguns dos critérios utilizados são: carteira de vacinação em dia e presença na escola. São feitas entrevistas e em seguida uma assistente social visita a residência, exceto em casos de casas localizadas em locais de risco ou conflito. Após o ingresso, a família passa a ter direito gratuitamente a todos os benefícios e ao Riocard (vale transporte eletrônico).

Para ilustrar, foram entrevistadas as donas de casa Thelma Regina e Valéria Carvalho da Silva. A primeira é mãe de uma criança de quatro anos que sofre de epilepsia crônica, e vem sendo atendida há dez meses, contando com ajuda para todos da casa. Duas vezes por semana, Thelma vem de Piabetá para assistir às aulas dos cursos de manicure e trança, disponibilizados na Casa das Oficinas, um dos braços da ONG. A segunda é mãe de Carlos Alexandre que tem leucemia. Além dos medicamentos para o filho doente, o outro filho de Valéria, Carlos Eduardo, teve um curso de plataformista (no valor de 1.100 reais) pago integralmente.

Os números alcançados são impressionantes. Desde 1991 até maio de 2009, 2.624 famílias, juntas, formaram um número de 8.841 crianças e adolescentes atendidas. Além disso, 1.579 instrumentos de trabalho foram doados e 2.371 cursos profissionalizantes oferecidos. A Associação Saúde Criança Renascer conta com 38 funcionários, 140 voluntários e uma extensa rede de grandes patrocinadores e empresas que a apóiam, como a Rede Globo, Unimed e a empresa de empreendedorismo social Ashoka.

Durante a visita ao local foi visível a satisfação dos assistidos. Enquanto as crianças brincavam nos arredores, as mães conversavam entre si. Ivete Venanssone, avó de Calisto Dias Júnior, que sofre de diabetes emocional, resumiu o sentimento de todas com a seguinte frase: “Isso aqui é muito bom, temos tudo o que precisamos e somos sempre bem atendidos. É uma beleza!”

Quem quiser colaborar pode entrar em contato através do site www.criancarenascer.org.br ou pelo telefone (21) 2286-9988. A visitação acontece de segunda à sexta-feira de 10 às 17 horas. O endereço é Rua Jardim Botânico, 414 – Rio de Janeiro.

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